sábado, 26 de julho de 2008

Sobre a liberdade

Sobre a liberdade

Há pouco tempo, Bento XVI, em discurso sobre São Máximo, o Confessor, abordou o tema da liberdade, encontrado nos escritos desse santo. Houve alguém que, dando-se conta da importância desse tema, achou por bem divulgá-lo entre amigos. Estes, por sua vez, se questionaram amplamente, a respeito, sinal de que se trata de um assunto de grande interesse.
O referido discurso do Papa tratou do tema da liberdade nos escritos de São Máximo. Para se compreender a liberdade importa “compreender o dinamismo do ser humano que só se realiza saindo de si mesmo”. O homem não pode fechar-se sobre si mesmo, sob pena de não se realizar. Em nós mesmos não poderemos encontrar-nos. Onde então nos encontraremos? “Só em Deus nos encontramos a nós mesmos, nossa totalidade e plenitude”. Em conseqüência, “o homem que se fecha em si mesmo não está completo”.
O pecado consiste na negação. O homem foi induzido a dizer “não” a Deus, iludindo-se de que com isso seria livre, “chegaria à culminância da liberdade”. Não se deu conta que “o máximo da liberdade é o ‘sim’, a conformidade com a vontade de Deus”. No Evangelho encontramos a afirmação contundente dessa realidade, ao nos ensinar: “aquele que tentar salvar a sua vida, perdê-la-á. Aquele que a perder, por minha causa, reencontrá-la-á” (Mt 10,39).
Que significa, do ponto de vista filosófico, que nossa liberdade está condicionada ao “sim” e não ao “não”? Significa que nós somos seres essencialmente finalizados. Nós não temos em nós mesmos a plenitude. Somos seres carentes e, por isso, dependentes de quem é plenitude, de quem pode dar, de quem pode enriquecer-nos. Somos essencialmente voltados para um fim. Voltarmo-nos para o “não” é o mesmo que nos voltarmos para o vazio, para onde não há nada que possa plenificar-nos.
Voltarmo-nos para o “não”, representará duplo sintoma: ou ilusão, ou loucura. O mais freqüente é a ilusão de saciar-nos com produtos imaginários, sonho da imaginação. Uso um exemplo para ilustrar a loucura de encontrar a liberdade com o “não”. Se estou numa sala, no décimo andar de um edifício, posso decidir, porque sou livre, de sair pela janela. Verdadeira loucura.
Portanto, nós temos uma liberdade condicionada. Somos dependentes em tudo, da família, da sociedade, das realidades materiais. Nossa vontade não está em condições de dispensar esses condicionamentos. O mais profundo e abrangente entre eles é que somos seres condicionados pelo fim, a fonte de toda nossa realização, o Sumo Bem, diria o filósofo pagão, Aristóteles. Em sua “Ética a Nicômaco”, afirmou que todo homem busca a sua felicidade, sua realização. Os ignorantes, a buscam nos “prazeres, nas riquezas e nas honras”. Os sábios, porém, a buscam no Sumo Bem.
Finalmente, a liberdade está ligada de forma imediata à decisão de nossa vontade. Mas, de forma mediata, está ligada à nossa razão, que representa o farol a iluminar a estrada de nosso fim, solicitando a vontade de andar por ela. A razão, no exemplo acima, solicita nossa vontade a sairmos pela porta da sala e tomar as escadas, ou o elevador. Se a razão não iluminar esse cominho, significa loucura. Assim, creio eu, podemos entender que a liberdade consiste em sairmos de nós na direção do bem, do Sumo Bem, significa vivermos do “sim”. Foi o que Bento XVI desencarnou das obras profundas de São Máximo, do século VI; santo que sofreu verdadeiro martírio. O imperador de Constantinopla, primeiro, mandou cortar-lhe a língua, a fim de impedi-lo de falar, depois, mandou decepar-lhe a mão direita, a fim de impedi-lo de escrever e, em seguida, o exilou. Por tal martírio foi chamado de São Máximo, o Confessor.

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