sábado, 28 de fevereiro de 2009

Correção de rota da Igreja

A Igreja em Correção de Rota
Achylle A. Rubin
Minha última crônica termina falando de “correção da rota” da Igreja na América Latina e no Caribe. Trata-se da Vª Conferência de bispos representantes de nosso subcontinente, realizada em Aparecida do Norte, em maio último. Sendo a Igreja composta de pessoas sujeitas a erros e acertos, resulta natural que faça periodicamente avaliações e correções.
Tal processo iniciou na IVª Conferência realizada em Santo Domingo, em 1992, sob a forte influência de João Paulo II. O documento conclusivo dessa Conferência, abandonou o método de partir das realidades sociais, para partir da profissão de fé: “Bendizemos a Deus que... ‘enviou seu Filho, nascido de mulher’” (Gl 4,4), pois “o mistério do Reino, oculto durante séculos e gerações (Cl 1,26) e presente na vida e nas palavras de Jesus, identificado com sua pessoa, é dom do Pai” (nº 4,5)! Portanto se é dom do Pai, a “prioridade” não é dada às análises sociais, ao método “socioanalítico”, mas ao dom da fé.
Em Aparecida, Bento XVI deu o tom a toda a Conferência, manifestando sua expectativa: “... esperamos encontrar na comunhão em Cristo a vida, a verdadeira vida digna desse nome... Mas isto é mesmo assim? Estamos realmente convencidos de que Cristo é ‘o caminho, a verdade e a vida’?”. O Papa segue afirmando “a prioridade da fé e vida em Cristo” em relação a tudo o que se refere à vida cristã. A prioridade não será mais a realidade social, por mais urgente que apareça. Tal rumo representa uma verdadeira “correção de rota”.
A rota, neste caso, significa o método, definido pelo dicionário Aurélio como “caminho pelo qual se atinge um objetivo”. É caminho, ou procedimento para estudar um objeto.
Ora, cada objeto a ser estudado tem seu método e cada método seu objeto. Por exemplo, não posso estudar uma planta com o método com que estudo uma pedra. É como se, para ir a algum lugar, houvesse um único caminho. Tomando outro caminho, levaria a outro lugar. Um erro de caminho, de rota, exige correção, do contrário não se chega ao lugar desejado.
Pois bem, tomando o caminho, ou método, dos dados sócio-históricos, chamados de “socioanalítico”, não se chega às realidades reveladas por Deus. Chega-se mais próximo, isto sim, do “materialismo histórico”, do qual certos teólogos tiveram e têm muita dificuldade de se desfazerem. Felizmente outros, que acreditavam nesse caminho, voltam a crer e afirmar que se deve “partir da experiência de fé”.
Os bispos reunidos por 15 dias em Aparecida acolheram a orientação do Papa e tomaram pelo método, pelo caminho da “prioridade da fé e da vida em Cristo”. Estamos, pois assistindo a uma feliz correção de rota da Igreja na América Latina e no Caribe.