domingo, 10 de maio de 2009

Meditação para o ano catequético

Meditação para o ano catequético

O ano catequético é também ocasião para meditarmos sobre a catequese. Tem-se escrito muito, ocorreram muitos estudos a respeito. Entendo, porém, que se deveria refletir sobre dados que julgo pouco levados em conta.
Começo com uma pergunta que um candidato à vida consagrada me fez, há poucos dias: “Por que se batizam crianças, se elas não teem consciência da fé?”
Respondi: tem-se dito que a criança é batizada na fé dos pais. Considero essa resposta verdadeira, mas deveria ser explicada. Acredito, com efeito, que a criança não só é batizada na fé dos pais, mas também na sua própria fé. Como assim?
A criança biologicamente é um ser autônomo. Esse é um dos argumentos contra o aborto. Entretanto, por respeito à estrutura de seu caráter, estrutura psíquica, ética, moral e espiritual, a criança desde a concepção depende e já vai incorporando em si os elementos dessas áreas, incluída, sobretudo, a fé. Tudo isso a criança já possui incoativamente, recebido dos pais. A Renate Jost Soares, com sua intuição e trabalho tão sério e fecundo, que o diga.
Assim, o inicio desses componentes essenciais para o ser humano, não exige necessariamente o uso da consciência, pois ele acontece antes mesmo. Até o uso pleno da consciência, o filho depende dos pais nas áreas do caráter, do comportamento e da fé. Não só depende, mas também recebe esses elementos dos pais. Aqui a autonomia vai acontecendo em momentos sucessivos.
Os pais são assim ministros naturais e eficazes. Para tanto, receberam do Criador tal ministério, inscrito em sua própria natureza de pais. Trata-se ademais de um ministério indispensável e, mais do que indispensável, insubstituível!
Nenhum outro método, nenhuma outra ação poderá substituir esse ministério dos pais, recebido do Criador, inscrito na própria natureza da paternidade e maternidade. Agir contra a violência, por exemplo, não produz frutos. Seria preciso cuidar da raiz que condiciona a violência. O Texto-base da CF deste ano diz uma frase que deve ganhar mais espaço e relevo. Diz lá: “... a família forma o ambiente privilegiado e insubstituível para desenvolver a cultura da paz” (nº243).
Essa frase nos sugere por associação o principio de subsidiaridade que Pio XI consagrou na encíclica Quadragesimo Anno. Subsidiário é algo “secundário”, que presta auxílio a outro principal. Assim a comunidade maior é apenas subsidiária por respeito à menor, isto é, só deve ser de auxílio naquilo que a menor não tem condições de conseguir. A menor é a primária, a maior, secundária, subsidiaria. Esta não pode tomar o lugar daquela.
Quando levam a criança a ser batizada, os pais são exortados, tanto ao receberem a vela acesa, quanto ao serem abençoados. No primeiro caso o ministro diz: “...esta luz vos é entregue para que a alimenteis” e, no segundo, diz: “Deus... os abençoe, a fim de que...sejam os primeiros a dar aos filhos... o testemunho de sua fé em Jesus Cristo nosso Senhor”.
Que tem a ver isso com a catequese? Não é difícil de relacionar. A catequese não pode de forma alguma substituir os pais na educação da fé. O catequista não tem a competência natural para isso. Nunca fará o que só os pais podem fazer.
Muitos se questionam donde vem a fé de uns em contraposição da falta de fé de outros. A experiência nos diz que os primeiros receberam a fé dos pais. É deles que normalmente recebemos a fé. É o caminho natural, dom de Deus inscrito na natureza.
Não será, a falta de vinculação religiosa à família, a causa da queixa tão comum de que após a primeira eucaristia e, sobretudo, após o sacramento da Crisma, as crianças e adolescentes não voltam mais à Igreja? E não há também a queixa a respeito das dificuldades inatas da pastoral da juventude? Não será porque as crianças e os jovens, aos lhes faltar essa vinculação familiar, se tornam quase impermeáveis aos valores ético-religiosos?
Claro, Deus faz milagres, mas o caminho normal do agir de Deus são as “causas segundas”. Ao criar, ele enriqueceu as criaturas de capacidade de agir. E às criaturas racionais, deu a missão de educar os filhos para os valores ético-morais e religiosos. Os pais são a causa segunda na educação, sendo sempre Deus a causa primeira.
Alega-se que os pais não cumprem com sua missão. Muito bem. Mas então por que não dar mais ênfase à pastoral familiar, em vez de substituir-se a eles? Para que despertem ao cumprimento de sua missão, entretanto, é importante que concretamente sejam estimulados a cumpri-la, com a prática da educação dos filhos na fé. Por que não restituir-lhes então também a prática de seu carisma, confiando-lhes a preparação para os sacramentos de iniciação cristã?
Dir-se-á, que aos pais lhes falta o preparo para a catequese. Mas, e se não se tratasse de “dar catequese” aos filhos? O nome “catequese”, com efeito, possui uma conotação tão especializada e até complicada, depois de tantos estudos e tentativas de solução, que não se pode, é verdade, exigir dos pais tal formação. Mas, dizendo com toda a propriedade, para educar na fé basta uma só coisa: ter fé,! Que “sejam os primeiros a dar aos filhos... o testemunho de sua fé em Jesus Cristo nosso Senhor”. É só isso que se precisa de imediato. A instrução, a catequese, deverá vir depois.
Por ocasião da visita do Papa, maio de 2007, Bento XVI afirmou novamente que evangelizar não significa instruir, mas fazer outros participar da vida nova em Cristo. Pede-se aos pais só isso, evangelizar os filhos.
Por que então não se poderia deixar aos pais a missão de preparar a criança para a eucaristia e conduzi-la, em dia à sua escolha, não à “primeira comunhão”, mas ao inicio da prática eucarística?
Atualmente a catequese não se assemelha por demais à escola? A escola normalmente termina com formatura. De fato, muitos se perguntam se a “primeira comunhão”, como o dia do Crisma, não se parecem mais com uma formatura. Alcançado o “diploma”, as crianças e os jovens contentam-se com ele. Não voltam mais à igreja.
Outra questão. Com a idade de 11, ou 12 anos, ainda lhe interessa a eucaristia a criança de hoje? São Pio X, há um século atrás, pedia que iniciasse aos 07 anos a participação na vida eucarística. Hoje, um século após, e depois de tanta evolução, não se deveria pensar em 05 ou 06 anos?
Muitos temem que o número dos que fazem a primeira comunhão e a crisma irá com isso diminuir de muito. É verdade... Mas, e se a perseverança aumentasse, não seria muito mais importante?
Não só os pais, mas toda a pastoral ganharia em estímulo para buscar a raiz dos problemas e não mais permanecer na aparência dos números. Responderiam assim, em profundidade, aos anseios inconscientes dos cristãos que inconscientemente também ameaçam fugir para outras denominações religiosas.
Como me propus uma meditação para o ano catequético, não julgo necessário me alongar mais. São apenas alguns “pontos”, para serem considerados, com intenção de também ser uma proposta subsidiária.

Pe. Achylle Alexio Rubin
achyllerubin@yahoo.com.br

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