quinta-feira, 27 de maio de 2010

A Nova Encíclica Social

A nova encíclica social

Chama-se de encíclica uma longa carta, de 150 a 200 páginas que o Papa envia a toda a Igreja Católica, bispos, padres, religiosos e fieis em geral. Nessa carta são tratados assuntos de orientação para a melhor compreensão da doutrina da Igreja e para o melhor agir de todos os fieis.
Celebramos no dia 29 de junho o primeiro aniversário da terceira carta encíclica do Papa Bento XVI, tratando da Doutrina social da Igreja. O título das encíclicas é tirado de suas primeira palavras. A atual se intitula Caritas in veritate, a caridade na verdade.
Desde 1891, com a publicação da encíclica Rerum Novarum do Papa Leão XIII, os Sumos Pontífices vieram publicando periodicamente encíclicas sociais. Assim, quarenta anos após a Rerum Novarum, em 1931, Pio XI publicou uma encíclica comemorativa que leva o nome de Quadragesimo Anno. Inícios da década de sessenta, João XXIII publicou duas encíclicas sociais, a Mater et Magistra e a Pacem in Terris. Em 1971, comemorando os oitenta anos da Rerum Novarum, Paulo VI publicou a encíclica Octogésimo adveniens. Antes disso, porem, o mesmo Papa publicara, em 1967, uma importante encíclica social com o título Populorum progressio. João Paulo II, entre outros grandes documentos de orientação social, publicou um primeiro, comemorando os 20 anos da Populorum progressio, com o título Sollicitudo rei socialis. A seguir comemorou os cem anos da Rerum novarum, com a encíclica Centesimus annus.
Esses foram os grandes momentos de orientação social dos Papas, desde o fim do século XIX. Alguém poderia perguntar-se, por que orientações tão repetidas sobre a ordem social no mundo? Acontece que, de época em época, as condições sociais vão tomando nova fisionomia. Hoje, por exemplo, vivemos com a novidade do fenômeno mundial da globalização. O próprio titulo da primeira grande encíclica de Leão XIII, de 1891, significa “das coisas novas...”. As coisas novas eram na época, o surgimento da era industrial com os enormes problemas do proletariado indefeso, antes das leis de proteção social e em vista das ideologias que nos últimos vinte anos demonstraram suas através de seus fracassos.
O objetivo primeiro apontado na nova encíclica, Caritas in veritate, está expresso no fim de sua introdução, onde o Papa nos diz que “pretende prestar homenagem e honrar a memória do grande Pontífice Paulo VI, retomando os seus ensinamentos sobre o ‘desenvolvimento humano integral’... para os atualizar nos dias que correm”.
Bento XVI dá a essa encíclica de Paulo VI, Populorum progressio, um grande relevo, dedicando-lhe todo o primeiro capítulo, depois de dizer que “é minha convicção que a Populorum progressio merece ser considerada como a Rerum novarum da época contemporânea, que ilumina o caminho da humanidade em vias de unificação”(nº 8).
A nova encíclica já foi objeto de grandes atenções por parte de especialistas que lhe descobriram valores preclaros. Fundamentando na caridade toda a ordem social, tira também importantes conclusões para a ordem econômica em gravíssima crise.
Por exemplo, o jornal romano, Corriere della sera, publicou que “o economista italiano Ettore Gotti Tedeschi, expoente dos maiores grupos bancários mundiais, propôs outorgar ao Papa Bento XVI o Nobel de Economia”. E, qual o motivo? O Papa foi o único que levantou a questão do controle indiscriminado da natalidade como uma das principais causas da crise mundial em que estamos. Como assim? Ettore explica: “Tal controle da natalidade levou ao crescimento os custos fixos, como os impostos, e à diminuição da poupança e dos ativos financeiros. Entretanto, muitos analistas preferiram não aprofundar a origem “original” da crise porque tocar no tema da natalidade representa um tabu”. Vê-se que a Caridade na verdade é uma encíclica que, estudada, deverá mexer com muitos críticos político-sociais contemporâneos. Disse “estudada” porque ela não é uma obra de uma única leitura...

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