sábado, 10 de maio de 2008

Jubileu particular

Jubileu particular
Achylle Alexio Rubin / achyllerubin@yahoo.com.br
Blog: achyllerubin.blogspot.com
Dia primeiro deste mês de maio comemoramos a jubileu de ouro do Colégio Máximo Palotino. Na esteira desse evento estou também eu comemorando um jubileu particular. Completo nestes dias cinqüenta anos de professor de filosofia. Professor no Colégio Máximo Palotino, professor na UFSM, professor nos saudosos cursos de direito e economia dos beneméritos irmãos maristas.
Minha socrática consciência, ou minha pobre auto-estima me sussurram ao ouvido: em cinqüenta anos aprendeste tão pouco e obtiveste tão parcos resultados?! Entretanto, ao tentar auxiliar nossos jovens, faço valer a palavra de Pedro ao coxo de nascença: “Não tenho ouro nem prata, mas o que tenho, eu te dou” (At 3,6).
Com efeito, nesses cinqüenta anos fiz o que minha frágil natureza e minha limitada inteligência me permitiram fazer: dar daquilo que minhas convicções e possibilidades me indicavam. Ao concluir o doutorado em filosofia, meu saudoso orientador de tese entendeu dar-me um conselho, dizendo-me: nos primeiro três anos de professor, considero prudente usares um manual. Eu lhe respondi com grande convicção e maior ousadia: ainda que lecione mal, penso ser preferível fazê-lo sem o uso de manuais e apostilas.
Mal imaginava então a mão de obra que essa minha pretensão iria me custar. Mas acredito ter sido premiado. Ao menos para meu proveito. Aprendi a me tornar aprendiz de filósofo, não repetindo o que os outros pensaram, mas mostrando aos alunos a arte de filosofar. Não tratei de ensinar filosofia, mas sim de ensinar a filosofar.
Aprender a história da filosofia, o pensamento dos outros, é certamente importante. Não é, porém, suficiente para se criar um filósofo. Tomás de Aquino, em seu tratado De Coelo (Sobre o Céu), escreve que a função da filosofia “não é saber o que os homens pensam, mas qual é a verdade objetiva”. Nessa busca deverá, de preferência, ocupar-se a mente humana.
Para tanto o aluno necessita ver o exemplo de alguém que filosofa diante dele. Apelei para a imagem do aprendiz a pintor. O aprendiz a pintor começa copiando pinturas. Mas se quiser progredir na arte, deverá libertar-se da dependência dos outros para, finalmente, tornar-se autêntico pintor com obras originais. Assim, o curso de filosofia não deverá ter como objetivo ensinar filosofia, mas ensinar a filosofar.
Com esse objetivo promoveu-se, ainda nos idos de sessenta, uma associação filosófica, contando como um dos principais animadores o saudoso Sergio Pires, então aluno do curso de filosofia. Essa associação promoveu seminários para alunos e professores. Em 1967, por exemplo, animou um desses seminários sobre filosofia das ciências, ao qual tomaram parte um grande número de professores, entre eles o próprio Dr. Mariano da Rocha Filho, fundador e reitor da Universidade. O conteúdo desse seminário publiquei-o há poucos anos sob o título “Três lições de filosofia das ciências”.
Ao completar, neste mês de maio de 2008, cinqüenta anos de professor de filosofia, sou muito grato por ser o que sou devido às circunstâncias a mim oferecidas por uma Providência misteriosa e cheia de amor que me conduziu, malgrado minhas resistências físicas, morais e espirituais. Incluídas nessas circunstâncias estão muitas pessoas caridosas que depositaram confiança em mim, às quais sou imensamente agradecido.

8 comentários:

João Eichbaum disse...

Achylle, tua intimidade com a filosofia é tanta que, numa simples conversa, sem objetivos didáticos, tu instigas a pensar até um ignorante em filosofia, como eu. Vou procurar conservar essa virtual qualidade que atribuis a teus leitores, para pensar melhor.Um abraço. PS: o "Eichbaum" é o meu sobrenome em alemão, que uso como nome literário. Carvalho

João Eichbaum disse...

Achylle, tua intimidade com a filosofia é tanta que, numa simples conversa, sem objetivos didáticos, tu instigas a pensar até um ignorante em filosofia, como eu. Vou procurar conservar essa virtual qualidade que atribuis a teus leitores, para pensar melhor.Um abraço. PS: o "Eichbaum" é o meu sobrenome em alemão, que uso como nome literário. Carvalho

Hugo Behael disse...

Agradeço muito pelos passos que me ajudou a dar. Ficou muito alegre em saber que existem pessoas que ensinam com Amor e fazendo-o com uma simplicidade cheia de humildade e carinho. Ensinaste-me muitas coisas, principalmente a respeito do "ser" e seus atributos. Muito Obrigado.

Ass. Hugo Behael

Pe. Achylle disse...

Amigo João Eichebaum Du bist mehr ein eichewald als eine Eiche,also.
Mas, obrigado pela apreciação da filosofia. Se vieres a Cascavel, dou-te meu livro "Também você é filósofo". Todo mundo o é, segundo o testemunho de todos os filósofos.
Obrigado, abraços e bênçãos! Achylle Aléxio Rubin

Pe. Achylle disse...

Amigo Hugo
Sabes que não consigo recordar-me bem de você? Dizem que o velho esquece tudo, menos a gaveta do dinheiro. Mas te agradeço de coração pela comunicação. Que Deus te pague. Abraços e muitas bênçãos
Pe. Achylle Rubin

Bynho Brum disse...

Pe Achylle, estou saido da caverna e a tua influência tem pra mim um valor inestimável.
Agradeço a Deus pela tua existência e pela sabedoria que Ele te tem dado.
Que Deus te abençoe a cada dia.

Anônimo disse...

Estimado Padre, quase 51 anos o senhor irá celebrar de professor, já que estamos em 2009.

Obrigada pelo teu belíssimo prefácio no livro "Teologia do Corpo para iniciantes".

Espero poder conhecê-lo pessoalmente e... se possível... aprender a filosofar!

Amei a frase do Doutor Angélico:
Não é, porém, suficiente para se criar um filósofo:... a função da filosofia “não é saber o que os homens pensam, mas qual é a verdade objetiva".

Deus lhe abençoe por seu apostolado e sacerdócio,

Em Cristo,

Julie Maria

Unknown disse...

Hoje, parte para a casa do Pai, o saudoso Pe. ACHYLLE!