sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Seguimento de Cristo (2)

O texto anterior sobre esse tema permaneceu truncado. Importa aclarar algo mais. Começaria insistindo que a teologia cristã deverá saber referir tudo ao fato maior, à "fé e vida em Cristo". A consequência do que tenho postado no primeiro texto a respeito do que nos veio fazer Cristo, nos leva a dizer que o seguimento de Cristo não se refere a um ato extrínseco de seguir à frente ou atrás de Cristo. Nem sequer de seguir ao lado de Cristo. Refere-se a ser parceiro livre de Cristo em tudo que fazemos.
Quando Deus criou homem e mulher, disse: "façamos o homem à nossa imagem e semelhança" (Gn 1,26). Ora, com a vinda de Jesus Cristo aconteceu uma "nova criação". Não somente nós, mas, de alguma forma, toda a criação é constituida "nova criatura", pois, "eis que tudo se fez novo!" (2Cor 5,17). Tudo segundo "um desígnio de reunir em Cristo todas as coisas, as que estão nos céus e as que estão na terra" (Ef 1,10). A criação toda, com efeito, "na esperança de ser também ela libertada do cativeiro da corrupção, para participar da gloriosa liberdade dos filhos de Deus, geme e sofre como que dores de parto até ao presente dia..." (Rom 8, 8,21-22).
Com isso, no Novo Testamento, é como se Deus dissesse: façamos o homem à imagem e semelhança de meu eterno Filho! "Filhos no Filho", como se acha nos documentos do Concilio Vaticano II.
O seguimento de Cristo, nesta perspectiva, é entendido como um ser outro Cristo, como também um agir de Cristo. Tem-se dito com grande propriedade que o agir de uma pessoa, ordenada com o Sacramento da Ordem, acontece in persona Christi, quer dizer essa pessoa faz às vezes de Cristo, encarna a pessoa de Cristo, fala como Cristo, como outro Cristo. Por isso, no sacramento da confissão e também na Eucaristia ele não diz "Deus te perdoa", ou "este é o corpo de Cristo", mas diz: "eu te perdoo" e, "isto é o meu corpo".
Todo cristão batizado, porém, participa de maneira distinta, mas real, de ser outro Cristo, a fim de também dizer palavras de Cristo. Sobretudo, na familia, os pais são habilitados a dizer palavras de Cristo a seus filhos. E assim em todo relacionamento entre cristãos.
Portanto, como filhos de Deus, "nova criatura", somos todos vocacionados a sermos outro Cristo. Tenho, na pregação, provocado a hilaridade do público, ao afirmar que nossa vocação é de sermos "Jesuszinhos" no mundo.
Acredito que com esse apelativo tenho ilustrado melhor o que significa o seguimento de Jesus. Seria a forma real, verdadeira, de representar Jesus. Não só por chamado e nomeação da parte dele, mas também por ter-nos feito "novas criaturas", "à sua imagem e semelhança", outro Cristo.
Como "novas criaturas", mas sempre criaturas, a realidade de Deus não permite, entretanto, sermos mais do que instrumentos livres, parceiros livres do Cristo, constituidos pela participação de sua natureza, num gesto de sua infinita bondade (2Pd, 1,4).
Portanto, o seguimento de Cristo é algo que não pode ser entendido como qualquer seguimento, mas é preciso entendê-lo num sentido único e singular.
Jesus, felizmente, usou a imagem de grande significado, ao comparar o seguimento à relação existente entre o tronco e os ramos de uma videira. Os ramos darão muito fruto na medida em que se conservarem unidos ao tronco. Verbalmente, disse: "o ramo não pode dar fruto por si mesmo, se não permanecer na videira". Assim, o evangelho de João, em pouco mais de vinte linhas repete a palavra "permanecer em mim" seis vezes. Com essa imagem dos ramos unidos ao tronco ele caracteriza de forma perfeita o seguimento (Jo 15, 1-8). Ler com muita atenção esse texto de João, traz para o que vimos acima verdadeira luz.

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