domingo, 30 de setembro de 2012

Carta aberta à escritora Lya Luft

Carta aberta à escritora Lya Luft


Prezada escritora

Quero felicitá-la pela sua última crônica, publicada na revista Veja, ano 45, nº 39, com data de 26 de setembro de 2012, sob o título Buscando a excelência. São 54 anos que venho lecionando filosofia e desde a primeira aula estive me orientando pela crítica à escola. De lá para cá minha crítica veio crescendo, pois a escola veio piorando sempre mais. É bem verdade o que você diz: “A mediocridade reina, assustadora, implacável e persistente. Autoridades desinformadas, alunos que saem do ensino médio semianalfabetos e assim entram nas universidades, que aos poucos vão se tornando reduto de pobreza intelectual”.

Recordo outro professor que se apercebeu desse fenômeno, Mateus Lippman. Professor de lógica no primeiro ano de faculdade confessa que quando se deu conta que era impossível fazer os alunos entenderem a lógica, abandonou a universidade e fundou o movimento Filosofia para as crianças, mundialmente conhecido. Admiro a constatação e a resolução tomada por este professor, apesar de contestar-lhe o conteúdo de tal filosofia para as crianças.

Sou professor de metafísica e busco sempre entender tudo pelas causas mais profundas. Considero que a causa mais profunda reside na carência da base última e fundamental da educação. Tal base reside na família natural. Os pais são a autoridade indispensável, única, em educação.

Vivemos, hoje, na era da tecnologia e, por isto, nossa cultura crê que todos os problemas humanos se resolvem pela tecnologia. Assim que a felicito, Lya Luft, porque foi uma das poucas vozes que, ao falar de reforma de ensino, não se apelou para os elementos tecnológicos. Com o domínio da tecnologia não se respeita e não se valoriza o que é natural e valoriza-se mais o artificial. Perdido assim o sentido da família natural se tenta construir famílias artificiais. Com isto se tenta alcançar o objetivo da educação desconhecendo a legítima autoridade educativa, que é a família natural.

Esta família também entrou em crise, em nossos dias. Assim, estas próprias crianças são matriculadas na escola mal educadas. E os pais chegam ao absurdo de reclamar dos professores por não educarem bem seus filhos. Acontece que os pais crêm possível terceirizar a educação cívico-humana em favor da escola, e a educação religiosa em favor da catequese.

Falando de alfabetização, por exemplo, entendo que se deveria fazer uma experiência pioneira em que a alfabetização fosse ministrada pelos pais. Com isto as crianças entrariam na escola com outro espírito. Insiste-se tanto para que os pais participem da escola e é de nos perguntar se tais reuniões estejam produzindo os frutos desejados. Com um décimo de tempo que os pais dedicasse à tarefa de alfabetizar os filhos alcançariam resultados muito mais satisfatórios. O mesmo se diga da tarefa de educar na fé.

Sempre me perguntei: por que as crianças, antes de começarem a frequentar a escola querem saber a respeito de tudo e fazem mil e uma perguntas e após ingressarem na escola perdem o interesse pelo saber, não fazem mais perguntas, e somente se mostram interessadas em cumprir tarefas, com fins utilitaristas.

Prezada escritora Lya Luft, convido-a a escrever outras e outras reflexões sobre este assunto. Abraços e bênçãos! Pe. Achylle Rubin

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