terça-feira, 13 de novembro de 2007

O Social

Pastilha 77
O Social
Estou fazendo um teste para inaugurar meu novo Blog. Desejo tudo de bom aos que me lerem, junto com uma carga de bênçãos!
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Prometi na “pastilha” anterior tratar o assunto do social. Faço-o porque se trata de um tema de grande relevância para os tempos atuais. Tanto o socialismo, como o neoliberalismo não possuem uma compreensão adequada do social. Ao contrário. Eles induzem o pensamento a criar uma atitude maniqueísta. Assim o mundo se acha dividido. O mal de uns é bem para outros, e vice-versa. De um lado, impera o coletivismo, do outro o individualismo. E como os extremos se tocam, ambos conduzem, tanto para o individualismo, quanto para o coletivismo.
Na verdade trata-se de encontrar uma compreensão que valorize a sociedade, como o indivíduo. Há pouco tenho lido uma afirmação verdadeira de Leonardo Boff. Escreveu ele: o capitalismo nega a sociedade e o socialismo nega o indivíduo. Como então ver a harmonia entre esses dois componentes humanos?
Eis um dos primeiros assuntos que, a partir de 1958, estive tratando. Na semana após a Páscoa de 1960 dei um cursinho de três dias sobre a nova orientação pedagógica nos seminários. O tema principal versava sobre a relação indivíduo e comunidade. Como fugir tanto do coletivismo, quanto do individualismo?
Em filosofia, depende tudo do ponto de partida. Isto é, qual a natureza do social? Que tipo de ser é o social? Com efeito, se queremos entender um pouco do ser social precisamos entender qual a categoria de ser a que ele pertence. Do contrário estaremos sempre errando com nossos julgamentos.
Importa então, em primeiro lugar, dar-nos conta de que o ser social não é um ser físico. Por isso, não são as chamadas estruturas sociais, políticas, econômicas, educacionais, sanitárias, etc, que constituem, em primeira instância, o social. Essas são meros efeitos do social.
O social radica num nível bem mais profundo. Para entendê-lo se faz mister observar que ele diz respeito à intenção e à vontade livre das pessoas. E quando alguma ação parte da vontade livre das pessoas em busca de um fim – todos agimos por um fim – se diz que é uma ação moral, um ser moral.
Que seria então tal ser moral? Precisamente, o social acontece quando as intenções de vários indivíduos se unem por uma decisão da vontade livre para buscar juntos um objetivo. O que seria esse objetivo?
O objetivo humano é sempre o Bem. A pessoa está sempre essencialmente voltada para o bem. Tem-se definido o bem como aquilo que todos os seres apetecem, buscam e com ele se realizam, se tornam felizes. Assim as plantas, os animais e os homens buscam sempre ser e ser mais.
O social é constituído por um bem que muitas pessoas apetecem e buscam juntas por decisão livre de sua vontade. Assim o ser moral social é a comunhão de intenções e vontades que buscam em comum um bem. A causa do social é a união solidária de muitas vontades em torno de um bem que, por ser buscado solidariamente se chama de Bem Comum. Assim se constitui o social, feito de um ser que não é físico, mas moral, porque se trata do reino dos costumes, do comportamento. "Mores", em latim, significa costumes. De "mores" vem moral. A união, a comunhão que se estabelece, evidentemente, não é física.
Por outra, os bens que não são alcançados pelos indivíduos o serão pelo grupo e o que o grupo menor não consegue, o grupo maior vem, subsidiariamente, em seu auxilio. É a chamada lei da subsidiaridade. O que causa o social, portanto, é a ação da vontade de muitos para alcançar um bem que só se alcança em comum, que exige união de muitos.
Importa distinguir bens comuns morais e, outros físicos. Bem comum moral, por exemplo, é a confiança. Dela depende tudo, é básica para a economia. Preservá-lo é vital para uma comunidade. Esse bem é interno. O saber é outro bem comum que pertence a toda a humanidade. O Bem comum externo são todos os empreendimentos auxiliares, como as estruturas de governo, do poder executivo, legislativo e judiciário, as estruturas das escolas e universidades, as estruturas sanitárias, etc.
Em razão de ser moral e não física a natureza do social, ela também reside no íntimo das pessoas. O conflito acontece quando se imagina o social como um ser físico, as chamadas estruturas. Estas não são a causa primeira das injustiças. A injustiça reside mais em baixo. Está no íntimo da pessoa que não se conforma com o Bem Comum, ou que o dilapida.
Considerado o social como ser moral, ele não cria, por sua natureza, conflitos. Criaria se fosse visto como ser físico, pois, entraria em confronto com outro ser físico, a pessoa individua. Dois seres físicos podem confrontar-se, mas um ser moral íntimo à própria pessoa não produz conflitos, pois ele é um componente da mesma pessoa. Nela o Bem comum habita e é assumido com responsabilidade. Ao nascer a pessoa o bem comum se lhe impõe ao natural, seja o bem familiar, como o bem pátrio.
Desde sempre, se tem definido o homem como “animal político”, cidadão, de vez que a relação com o Bem comum é inata, pertence à própria natureza.
Em conseqüência, a autoridade, tanto familiar como civil, tem por função promover e defender o Bem comum contra as tendências desagregadoras.
Duas conclusões. Primeira. A estratégia maior da ideologia socialista sempre foi a conquista da opinião pública através da mídia. Ela está se impondo de tal sorte que a pessoa individua vai sendo mais e mais relegada, anulada. De outro lado, a prática consumista do liberalismo alcança o mesmo objetivo, domina a pessoa através do marketing, fazendo-a escrava da propaganda e da moda. A ditadura que ameaça a América Latina e que reina em muitos países está sendo, hoje, a mistura dos dois componentes. Um exemplo é a China.
Segunda conclusão. Com a resposta que dei acima, pretendo mostrar que é possível vencer o maniqueísmo ideológico: Quem não é socialista é capitalista. Ou: Quem não é de tal partido, é do outro. A maniqueísmo é também extremista, absolutista. Usurpa o absolutismo de Deus: “Quem não está comigo, está contra mim” (Lc 11,23). Achylle A. Rubin

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