quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Ver-julgar-agir

O método "ver-julgar-agir" ainda continua a causar prejuizos irreparaveis à filosofia e à teologia. Por que? Segundo me consta, foi inventado pelo então Padre belga, Cardjin, que depois se tornou Cardeal. Ele era assessor da JOC e começou, em fins da década de quarenta, ou inícios da cinquenta, a usar tal método tributário da sociologia religiosa que despontava, na época, com grande entusiasmo.
A partir daí teve muito sucesso por responder, segundo entendo, à rejeição da metafísica e a invasão do relativismo cartesiano. Bento XVI, em sua encíclica "Charitas in veritade", referindo-se à Populorum Progressio de Paulo VI comenta que este Papa "tinha visto claramento que, entre as causas do subdesenvolvimento, conta-se uma carência de sabedoria, de reflexão, de pensamento capaz de realizar uma síntese orientadora, que requer 'uma visão clara de todos os aspectos econômicos, sociais, culturais e espirituais’. A excessiva fragmentação do saber, o isolamento das ciências humanas relativamente à metafísica, as dificuldades do diálogo entre as ciências e a teologia, danificam não só o avanço do saber, mas também o desenvolvimento dos povos, porque, quando isso se verifica, fica obstaculizada a visão do bem completo do homem... É indispensável ‘o alargamento do nosso conceito de razão e do uso da mesma’” (Caritas in Veritate, nº 31). Esta última frase Bento XVI tirou-a de sua célebre conferência na universidade de Regensburg, dia 12 de setembro de 2006. 
Que dizer então do método ver-julgar-agir? Considero-o, precisamente, analítico, fragmentário, adequado só para a sociologia. Ora, a sociologia pertence ao mundo das ciências exatas e usa “método científico”, analítico, estatístico e por isso, inadequado para a filosofia e a teologia. A sociologia, quando se põe a diagnosticar as raízes das doenças, fica só nas aparências, na superfície.
Ilustro o método sintético com o exemplo de Santo Tomás de Aquino. Ao iniciar sua carreira se pôs a comentar, como os demais mestres da época, as Sentenças de Pedro Lombardo. Não tardou, porem, em se dar conta de que as Sentenças eram demasiado analíticas e, por isso, não seriam adequadas para a teologia. Daí partiu para uma visão sintética, unitária, no que resultou a Suma Teológica. Ele próprio comparou o método ao círculo por ser uma figura perfeita. Isto é, primeiro tratou sobre Deus, segundo, sobre Deus que desce e opera a criação e, terceiro, sobre Deus que, após a queda, eleva toda a criação de volta para si. (cf Torrell, J-P. OP, Iniciação a Santo Tomás, pessoa e obra, Loyola,1999).
A V Conferencia dos bispos da America Latina e Caribe inverteu o sentido que se dava ao método ver-julgar-agir. Em vez de se entender o "ver" como realidade socio-política, o definiu como o "contemplar a Deus com os olhos da fé através de sua Palavra revelada..." (nº 19).
Isto é suficiente para nos dar conta de que as interpretações do Documento de Aparecida, atribuindo ao "ver" a análise socio-político, não correspondem com o texto do mesmo Documento...   










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