domingo, 30 de dezembro de 2007

Ano Novo

Crônica
Ano Novo
Achylle Alexio Rubin / achyllerubin@yahoo.com.br
Blog: achyllerubin.blogspot.com

Vamos entrando no ano 2008. Estive me perguntando qual poderia ser a melhor mensagem para tal oportunidade. Não achei outra melhor do que desejar aos leitores de A Razão uma grande dose de verdadeira esperança.
A esperança que a todos desejo nada tem a ver com o sentido negativo que por vezes lhe damos quando dizemos fulano vive só de esperança, para significar que vive de ilusões. Muito pelo contrário. A verdadeira esperança, em lugar de significar incerteza, significa certeza do bem que nos aguarda.
Donde poderá vir essa certeza? Ela brota de uma promessa feita por alguém digno de fé, ao qual damos crédito incondicional. A esperança então é objeto da promessa de alguém que tem autoridade para tanto. Se o pai promete alguma coisa ao filho, este não alimenta dúvida alguma de que o pai cumprirá o prometido. Portanto, a esperança participa da fé. Trata-se de crer na pessoa que nos fala prometendo-nos algum bem.
Há muitos anos um menino de seus onze anos de idade veio a mim fazendo-me algumas perguntas. Na medida em que eu lhe ia respondendo, ele repetia: Se o senhor diz, é porque é! Com essa fé, se eu lhe prometesse algum bem futuro, estou certo que ele não duvidaria do cumprimento de minha promessa.
A esperança funda-se pois na autoridade de quem promete o bem. O exemplo que dei refere-se à esperança humana, fundada na autoridade humana. Quanto maior e mais sólida a autoridade, tanto maior e mais sólida a esperança.
Dia 30 de novembro último, o Papa Bento XVI publicou uma Encíclica sobre a esperança, com o título latim Spe Salvi (salvos na esperança). Trata-se de uma longa carta com cerca de oitenta páginas que o Papa enviou aos católicos e ao mundo. Nesse documento ele contempla o triste fato de um mundo sem esperança.
Duas razões aduziu o Papa, justificando essa afirmação. A primeira diz respeito a uma constatação histórico-filosófica. Desde o século XVII, iniciando com o filósofo Francis Bacon, morto em 1626, e passando por Descartes e Kant, a esperança começou a buscar fundamento nas ciências exatas, terminando na fé no fabuloso progresso da tecnologia. A tecnologia é uma promessa falaciosa que promete resolver todos os problemas humanos, até mesmo o prolongamento indefinido da vida. Assistimos no Natal e primeiro de ano à corrida louca às compras, ao consumo desenfreado de mil produtos, por vezes ilusórios, oferecidos pela tecnologia. A esperança se esgota nesse burburinho.
A segunda razão porque o mundo está sem esperança resulta do abandono de Deus e, em conseqüência, da falta da resposta definitiva ao sentido da vida.
Qual o sentido de nossa existência? Somos seres destinados a acabar com a morte? Entretanto, habita em nós um desejo insaciável de uma felicidade diradoura, de um amor sem fim. A que serve esse desejo, essa paixão? Jean Paul Sartre, ateu confesso, morto em 1980, ao negar Deus, autor da promessa da realização dessa paixão, concluiu que “o homem é uma paixão inútil”. Esse é o mundo sem esperança: o homem é um ser inútil.Dia 1º de janeiro é o dia em que fazemos muitas promessas de felicidade, vida plena, saúde e prosperidade. Oxalá não esqueçamos a promessa d’Aquele que prometeu a felicidade sem fim, o amor que não acaba, fazendo que a paixão insaciável pelo bem deixe de ser inútil e que nós mesmos tenhamos um termo feliz, um sentido para além da morte.

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