sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Outra vez

Outra vez qualidade de ensino

Dois fatos me fazem voltar à consideração sobre a qualidade do ensino: o que apareceu em muitos noticiários sobre a memória de um gorila e o exame internacional tomado dos secundaristas pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico. Entre 57 nações testadas, o Brasil alcançou o 53º lugar em matemática, o 52º lugar em ciências e o 48º lugar em leitura. Será motivo de consolo não termos ficado na ponta da rabeira?
Os comentários em torno deste último fato aparecem em muitos órgãos da mídia. Mas o que me chama atenção é que as sugestões de reforma do ensino giram prioritariamente em torno dos aspectos quantitativos do ensino. Reclama-se do baixo salário para os professores, aliás, com muita razão, da falta de salas de aula para um número sempre crescente de alunos, de escassez de meios técnicos auxiliares, etc.
Considero que se prestássemos mais atenção para a qualidade do ensino alcançaríamos melhores resultados. Refiro-me ao caso do gorila, por ser paradigmático. O gorila japonês, diante de uma tela do computador, onde estavam escritos os números de 1 a 10, todos espalhados em desordem, conseguia apontar um após outro em perfeita ordem. Depois, apagados os números e substituídos por manchas brancas, o gorila novamente apontava em perfeita ordem todos os números. O mesmo exercício jovens universitários não conseguiam acertar.
Esse fato, recordou-me minha utopia de cinqüenta anos atrás. No meu longo tirocínio de professor, acreditei que um ensino de qualidade deveria priorizar a inteligência do jovem e não a memória. Por isso, comecei minha primeira aula de filosofia dizendo que deveríamos transferir o pólo da “matéria” a ser ensinada para o pólo da compreensão da mesma.
Para o efeito da compreensão acreditei que o mais importante seria o exercício da mente e não a guarda da “matéria”, onde se privilegiava a quantidade a ser transmitida. Nossa mente não desenvolve pela simples quantidade da “matéria”, mas pelo exercício, ainda que seja com um mínimo de “matéria”. Dizia que um bom craque de futebol não necessita jogar em todos os campos do mundo. Basta-lhe um só para se tornar um verdadeiro craque. O mesmo se diga de um bom violinista.
No meu contato com universitários aqui em Cascavel sou confirmado. Asseguram-me que não conseguem entender a “matéria”. Com isso apelam para a memória, coisa muito mais “prática”, por ser mais rápida e mais fácil, em função de vencer nos exames.
Dois meses atrás estive dando uma palestra sobre o ensino da filosofia, na cidade de Toledo, para alunos e professores da Universidade do Estado do Paraná. A queixa de uma professora foi muito sintomática. Disse que, com a programação oficial, não há espaço para cuidar do desenvolvimento da inteligência, é preciso correr...
Conclusão, poder-se-ia propor debates sobre o que significa um ensino de qualidade, pois, não creio que o gorila seja modelo adequado para a aprendizagem.

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